Certas        profissões têm charme na mídia, mas são pouco valorizadas na prática.
Outras        são disputadíssimas pela empresas, mas são esquecidas pela mídia.  
E,        com isso, batalhões de jovens sonhadores escolhem suas faculdades e        depois quebram a cara para arranjar um emprego. E, aí, com um diploma        na mão, vão ser vendedores de cachorro-quente, o que, aliás, parece        estar dando muito dinheiro. Mas vejam os        contadores. Por alguma razão,        no Brasil, e apenas no Brasil,        não são valorizados socialmente.        Na Europa e nos        Estados Unidos, se você se apresenta como contador todas         as portas se abrem,        e os pais sempre comemoram o ingresso do filho numa escola de        contabilidade.
Não        vou me esquecer nunca da cara de espanto do meu professor de ginásio, lá        no Colégio Jácomo Stávale, na Freguesia do Ó, quando quis saber o        que cada um dos adolescentes de 14 anos que completava o primeiro grau        pretendia ser na vida. No meio de futuros médicos, advogados,        engenheiros apareceu um, eu, dizendo que queria ser contador. E fui. Sou        um dos 110 mil contadores do Brasil ou 320 mil contabilistas se somados        os técnicos em contabilidade. Aconselho        a quem tiver de escolher uma profissão que ingresse em uma boa escola        de ciências contábeis e vá ser contador.
Você        não imagina quanta emoção e satisfação vai ter. E esqueça que a        revista Veja publicou uma matéria de capa sobre as melhores profissões        do futuro e não incluiu a de contador, apesar de serem as fontes mais        comuns de consulta das redações quando o assunto requer credibilidade        e profundidade. 
É        possível que os autores da matéria tenham ficado com a imagem deixada        pelo filme "Os Intocáveis", aqueles fantásticos policiais        que caçavam os inimigos da "Lei Seca". Tinha um contador que,        além de descobrir as falcatruas nos livros contábeis das organizações        fora-da-lei, enfrentava a Máfia com uma assustadora metralhadora.        Apesar da sua coragem, o contador morre. 
Hoje em dia não é bem assim        que os contadores trabalham. Também não usam ligas nas mangas de        camisas nem tampouco protetores para os olhos. Suas armas são modernos        computadores, com softwares que auxiliam a avaliar complexos industriais        que são vendidos em leilões de privatização por cifras de US$ 5 bilhões        a US$ 10 bilhões. Mais do que nunca o Brasil vai demandar contadores.          Esta é uma espécie de profissional que floresce apenas em países        democráticos onde a lei é padrão de referência. Em países de        economia fechada existe muito pouco mercado para esses profissionais.        Agora, quando o País decide abrir suas fronteiras e mergulhar na        economia de mercado, só mesmo um bom contador para indicar qual é a        melhor opção de investimento. 
Imagine        como ser competitivo se você não organizar os custos de sua empresa        para saber como racionalizá-los? Não há um dólar de investimento no        País sem que experientes contadores sejam chamados para analisar os        dados e interpretá-los e dar o seu veredicto. Numa economia        globalizada, então, nem se fale. Os relatórios contábeis são esmiuçados        e preparados dentro de padrões mundiais, conforme requerido pelo        Financial Accounting Standards Board (FASB), a junta de Normas de        Contabilidade Financeira, sem os quais nenhum centavo é negociado nas        bolsas norte-americanas.
No        caso do setor público brasileiro, está próximo o tempo em que        auditorias serão requeridas para verificar como cada real do        contribuinte está sendo aplicado. 
Não        tenham dúvidas, esta é a maneira mais eficaz de se combater desperdícios        e evitar déficits. É por isso que no        Brasil os auditores ainda são poucos.        Apenas 1 para 24.615 habitantes; nos EUA, a relação é de 1 auditor        para 2.317 habitantes, e na Holanda, de 1 para 899 habitantes. A média        mundial registra 1 auditor para 3 mil habitantes. Mas apesar disso, é        intrigante esta rejeição nacional por aquilo que possa resultar da        verdade dos números.
Despreza-se        com tal empenho o que possa decorrer da organização contábil, ciência        também conhecida como a ciência da ordem, que, na área política,        parlamentares como o deputado Roberto Campos, homem culto e inteligente,        chegam a acusá-la de classe parasitária. Apenas porque a        ciência contábil é implacável com a verdade por se basear no princípio        de que para cada dinheiro gasto deve existir fonte correspondente,        conhecida e identificada.        Bem, não se pode dizer que os orçamentos públicos votados pelas Casas        Legislativas sejam exatamente produto dessa equação contábil.
Fica        aqui reiterado o meu conselho aos jovens deste país. Tomem cuidado ao        escolher uma profissão. Cada um saberá tirar o máximo de sabor do seu        trabalho, só não confundam profissão do futuro com aquela que lhe vai        permitir participar de muitos coquetéis, happy hours, presença em        colunas sociais ou que no final do filme a mocinha escolhe como galã da        história. 
Fonte: http://www.crcba.org.br/boletim/edicoes/reflexao_antoninho.htm
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